Se esbarrar comigo pelas ruas do seu bairro, não mude de calçada.
Puxe meu braço com leveza, como você costumava fazer, e diga baixinho
que estava com saudade. Diga que pensou em me ligar, que tem tanta coisa
para dizer, que a vida não foi mais a mesma depois de mim. Se souber
que conquistei algum dos objetivos que sonhávamos juntos, me ligue para
comemorar. Diga que se orgulha do meu esforço, que sempre acreditou em
mim, que sabia que eu chegaria lá.
Se souber que ando triste, mande uma mensagem. Pergunte se eu preciso
de ajuda, se pode fazer alguma coisa, se foi alguma coisa que você fez.
E quando estiver em desespero, me grite também. Não me deixe saber pela
sua mãe que você está em um quarto de hospital e não quer me ver. Eu
ainda preciso saber que, no fundo, você ainda precisa de mim.
Se sentir muita saudade, releia as cartas que esqueci, de propósito,
na gaveta do seu escritório. Tente me reencontrar nas linhas e
entrelinhas das nossas histórias. Relembre os momentos em que nada mais
importava. Desfrute do passado que nós tivemos, recorde o futuro que
imaginávamos, pergunte-se como você foi me deixar sair da sua vida. Se
não lembrar o que te fazia tão feliz em nós dois, procure em nossas
fotos. Nós guardamos um bocado de felicidade naquelas lembranças e
aniversários.
Se passar pela rua do meu prédio, pergunte ao porteiro se estou em
casa. Peça pra subir. Ou peça para eu descer. Diga que estava só
passando e resolveu dizer um oi. Eu vou acreditar, eu juro. Se quiser
ficar um pouco, diga que sente saudade do sabor do meu café, do cheiro
do meu bolo e do conforto do meu sofá. E eu vou tentar disfarçar a
saudade que sinto de ter minha casa com você.
Se souber que vamos à mesma festa, não me evite. Não me faça
acreditar que nós dois viramos aquele tipo de pessoa que passa a odiar
quem um dia tanto amou. Se me reencontrar refeita em um restaurante com
alguém que me faz sorrir, peça ao garçom que me sirva a minha bebida
preferida. E eu vou saber que, de longe, você fica feliz ao ver minha
felicidade. Se nossos olhares se encontrarem, não desvie. Não aja como
se a gente se repelisse.
Se não souber suportar a ideia de outro ter meu coração, não me
odeie. Saiba que uma história não precisa ter final feliz para ser
bonita. E que eu te guardo com um carinho enorme no peito. Se tudo isso
for muito difícil, saiba, então, que te entendo. Que aceito que mude de
calçada, que diga aos outros que não fui nada, que seu olhar fuja do
meu. Se eu puder, no entanto, te fazer só um pedido, faço esse: não mate
tudo aquilo que a gente viveu. E, aí, eu deixo que me esqueça em paz.
Eu só espero que a infelicidade momentânea não destrua tudo aquilo que
nos fez feliz demais.